O livro O mandonismo mágico do sertão: corpo fechado e violência política nos sertões da Bahia e de Minas Gerais – 1856-1931 surgiu como uma dissertação de mestrado em História social, orientada pela professora Carla Anastasia (ela assina a “Apresentação”), defendida na Unimontes, em 2013, e, no ano seguinte, agraciada com a primeira colocação no prêmio Sílvio Romero do Iphan, de apoio à pesquisa sobre folclore e cultura popular.
Estudando o sertão da Bahia e de Minas Gerais, o autor encontrou quatro autoridades que possuíam o “corpo fechado”: um padre (José Vitório de Souza, da lenda da “Bala de ouro”), um subdelegado e vereador (Afonso Lopes, da tragédia do Tamanduá), um fazendeiro envolvido na política, que se tornou bandido (Antônio Dó) e um coronel (Horácio de Matos, da Chapada Diamantina). O corpo fechado é a invulnerabilidade a tiros e golpes de arma branca, geralmente atribuído a cangaceiros, jagunços e bandidos. Com base na trajetória desses e de outros personagens da história sertaneja, Luís Santiago delinea a intercessão da magia (corpo fechado) com a política interiorana brasileira.
Na busca pelas origens da crença no corpo fechado, especificamente brasileira, o autor chega ao povo Mandinga, do Mali, com a luta entre o herói Sundiata Keita e o invulnerável rei Sumaoro Kante, e as bolsinhas de mandinga, ou patuás, que originalmente continham objetos mágicos, depois passaram a guardar versículos do Alcorão, que, no Brasil, foram substituídos por orações que são verdadeiras pérolas do catolicismo popular. A invulnerabilidade, contudo, é um atributo dos heróis de todos os tempos e lugares: Aquiles, por exemplo, e o Super Homem dos quadrinhos.
Em seguida, o trabalho faz um apanhado das muitas teorias sobre o coronelismo, o mandonismo e o banditismo político sertanejo, ressaltando o aspecto mágico, ou pelo menos carismático, e a participação de mandões e jagunços numa guerra especificamente brasileira. Para ilustrar os tipos da guerra civil no sertão de Minas e da Bahia, o autor lança mão de quatro estudos de casos, relacionados com três das quatro autoridades estudadas: 1) uma guerra no São Francisco baiano e mineiro, difusa no tempo e no espaço, envolve cercos, ocupação de cidades e até chacinas; 2) a guerra na Chapada Diamantina, mais bem caracterizada e mais bem delimitada, com duas etapas representadas pelo capitão Clementino de Matos e seu sobrinho Horácio de Matos; 3) a guerra da Coluna, guerra em movimento, que cortou duas vezes a Bahia e atingiu o norte mineiro; 4) a guerra do Tamanduá, ou guerra do Pau de Espinho, antes uma tragédia que uma guerra, começa com o assassinato de dois irmãos, seguido de chacina, de saques a adversários políticos (sebaça) e de uma longa vindita.
Com base nessas quatro guerras e nos conflitos entre o padre José Vitório e a elite de São José do Gorutuba, o trabalho chega aos aspectos propriamente mágicos da política sertaneja, inclusive à participação dos padres na política (muitas vezes truculentos) e ao assassinato como forma de acabar com a hegemonia de mandões tidos por portadores de poderes sobrenaturais.
Também foram incluídos nessa edição alguns “textos complementares”, que traçam a biografia de vários dos personagens, abordam a importância do carisma no Grande sertão, de Guimarães Rosa, e temas teóricos (o paradigma indiciário, a realeza sagrada, a antropologia política de Marc Bloch, a sociologia de Max Weber).
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Informações técnicas sobre a obra
Editorial: Juliana Teixeira, Neilton Lima e Rodrigo Oliveira
Revisão: Marina Mendes Santiago (1ª edição)
Capa: Neilton Lima
Arte da capa: Lucas Monte (Almenara)
Diagramação: Luis Santiago
Projeto gráfico e editoração (impressa e digital): Neilton Lima
Detalhes do produto
Capa comum: 572 páginas
Edição: 2ª edição (janeiro de 2021)
Idioma: Português
ISBN-impresso: 978-65-990683-8-6
ISBN-digital: 978-65-990683-9-3
Dimensões do produto: 16 x 24 x 3 cm
Peso do produto: 824 gramas
Impresso em papel offset 75 g/m2
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